Navegação – Marés

Imagine-se fazendo uma expedição em caiaque na costa do Maranhão, quando você encontra uma paradisíaca praia e resolve parar pra montar acampamento. Na manhã seguinte, o susto: roubaram o mar! A água está a praticamente 2 km de distancia do meu acampamento…

Ou depois de um dia de remada de mar grande, entrando na Barra de Cananéia, em SP, uma onda te faz capotar e perder o barco, que é arrastado pelas ondas até a praia. Você nada com o remo e equipamentos que conseguiu salvar por horas e percebe que é tudo em vão, está sendo levado cada vez mais pra dentro do mar. E agora?

São situações que qualquer caiaquista pode enfrentar, que com um pouco de conhecimento de marés e correntes, podem ser muito melhor gerenciadas.

O que é maré então? É variação do nível das águas do mar, causadas predominantemente pela força gravitacional da lua e do sol sobre os oceanos. Na verdade é um estudo muito mais complexo, que envolvem outros fatores, que não é o nosso objetivo esclarecer agora. Vamos direto pra aplicação prática pra um caiaquista.

Essa diferença de altura do nível do mar pode ser previsto (tábua de marés) e está acessível no site da marinha https://www.mar.mil.br/dhn/chm/tabuas/index.htm . É só escolher a data e porto mais próximo de onde você está.

A amplitude de maré pode variar bastante com o local, por exemplo, no RS a maior variação de maré é de apenas 0,60 m. Na região sudeste varia no máximo 1,8 metros, enquanto no nordeste pode alcançar 4 metros, chegando a 7 metros de desnível no Maranhão! Não é a toa que o nosso expedicionário ficou acampado a quilômetros do mar, na maré baixa!

Na figura abaixo, observamos que a maré baixa (baixa mar) no porto de Santos, no domingo, ocorre às 09:08 e a maré cheia seguinte (preamar) às 14:51 e volta a baixar até as 21:26. Isto é, das 9 às 15, a maré está enchendo e até as 21 está baixando.

 

Maré subindo, oceano jogando água pra dentro dos canais, causando uma corrente entrando do mar pra terra e vice versa. Quem sabe se nosso amigo remador tivesse escolhido um horário de maré subindo para entrar na barra de Cananéia, o seu incidente teria sido muito menos grave, não?

Velocidade da corrente de maré – logo que a maré começa a encher (às 9:00), ela começa a ganhar inércia, chegando à sua velocidade máxima na metade entre a baixa mar e a preamar, a partir de onde ela começa a perder a inércia de novo, até parar com a preamar, para depois inverter o sentido.

A regra dos 12 é um método para visualização fácil, da altura e velocidade de maré. Digamos que a diferença entre maré baixa e alta são 6 horas. Na primeira hora, a altura da maré sobe 1/12.

Na segunda hora sobe 2/12 (velocidade aumentando), na terceira 3/12 (velocidade máxima no fim da terceira hora), na quarta 3/12, na quinta hora 2/12 (velocidade diminuindo) e na sexta 1/12 (até velocidade zerar no final da sexta hora, preamar).

 

Portanto programe sua remada a favor da maré! Imagine uma corrente modesta de 2 km/h. Considerando um caiaquista que reme a 6 km/h, se estiver a contra a maré, vai render 4 km/h , enquanto se remar a favor, vai viajar a 8 km/h com o mesmo esforço. Remador inteligente usa mais a cabeça do que o braço! wink

Curiosidades

Uma das maiores marés do mundo ocorre na costa atlântica do Canadá, com quase 16 metros!

A maré varia aprox. 40 minutos de um dia para o seguinte, pois segue o calendário lunar. Por exemplo, na nossa tábua de Santos, a maré baixa que ocorreu às 09:08 no domingo, foi às 09:49 na segunda.

Existem lugares nos fiordes chilenos, que devido à complexidade dos canais, existem apenas 2 marés diárias e não 4.

As corredeiras salgadas de Skookumchuck, a Meca dos canoístas, na costa pacífica do Canadá, chegam até 16 nós (30 km/h) de velocidade, apenas pela diferença das marés.