Expedição Fortaleza – São Luís, dia 12
Antes do sol raiar, estava na água, pronto pra sair. Me disseram que tinha uma saída pra esquerda da barra principal e sai feliz por ela. Apesar da maré subindo, a corrente tava favorável pra sair, e deveria ser só contrário.
Achei estanho, mas a gente acaba não querendo ver as evidências, quando quer que algo aconteça… Como a maré estava baixa demais ainda, não sobrou canal pro mar e a água estava entrando de onde eu vim mesmo, enchendo o canal até conectar com o mar, aí inverte o sentido… Um casal de pescadores me falou que eu teria que esperar até às 10 pra sair. Resolvi voltar e sai na barra principal mesmo, por dentro da arrebentação, que pro caiaque é tranquilo.
Pra uma canoa é impensável, que é a referencia deles. O vento ajudou bem hoje é apesar de não achar que ia chegar, deu no grito. Foram mais de 70 km de exatamente a mesma paisagem, da praia infinita dos Lençóis. Muitas cabanas de pescadores no litoral. Vi uma torre atrás das dunas e fiquei animado, devia estar chegando em Travosa. Encontrei uns pescadores, que me falaram que era logo ali. Remei mais de hora, a torre passou faz tempo e finalmente cheguei na entrada da barra.
Mas cadê a cidade? Os pescadores me alcançaram no rio e me deram uma carona. Falaram que Travosa estava a 1,5 horas voltando pelo rio. Aí eles pararam perto de uns ranchos, pra vender o peixe pra um comprador numa Toyota. Eles moram nesses ranchos durante a semana, pescando e voltam pra cidade no final de semana. Cada rancho é de uma canoa e nessa comunidade pesqueira são 8.
Me falaram que quando está tudo mundo, tem até futebol. Eles dormem no primeiro andar, em redes, pois não voa areia longe do chão. A água vem das lagoas e do poço que eles cavam, água cristalina. Já tinha ouvido do Besouro, pescador de Atins, que eles são muito receptivos e já me adotaram na família.
Nem me perguntaram e já estavam fazendo o rango pra todos. Peguei um macarrão, molho e goiabada de sobremesa, pra contribuir. Todo mundo divide tudo, sem mimimi, bem interessante. Na pesca, metade da safra do dia é do dono do barco e a outra metade é dividida entre os pescadores, que geralmente trabalham em 3.
Naquele dia tinha pescado 90 kg de peixe, que a R$3/kg, dá R$270. R$135 vai pro barco e sobra R$45 pra cada um no final do dia. E quando a Toyota não vem pra comprar o peixe, eles ficam sem pra quem vender, já que não conseguem armazenar o pescado. A Toyota por sua vez sai de Primeira Cruz e anda umas 3 horas pelas dunas, pra coletar o peixe dos pescadores.
Nada é fácil por aquelas bandas… fiquei pensando no outro, que ganhou R$700, pra alugar o quadriciclo por 4 horas, sentado no bar, tomando pinga…
Chegando perto do final, já vai dando saudade da patroa e dos pimpolhos. Estamos chegando!